11/02/2010

The Runaways e o grito de rebeldia de Sundance.

O festival volta a sua raízes – ou será que não?

Num gélido domingo de noite no final do primeiro fim de semana do festival de filmes de Sundance, uma multidão enorme e quase toda feminina enfrentou o frio para fazer fila do lado de fora da escola Park City High School, se movimentando no lugar para evitar que os dedos congelassem. Conforme essas pessoas na fila foram devagarinho avançando para o cinema da escola, Eccles Theater, o maior e de mais prestígio local de Sundance, eles davam minúsculos passinhos de geisha pelo pavimento semi congelado, e passando por dezenas de almas desesperadas que seguravam cartazes com dizeres do tipo “Preciso de ingresso!”



Os filmes que normalmente atraem tamanha comoção são normalmente são filmes que viram fenômenos do nada, independentes de verdade que vem a Sundance sem contrato de distribuição e vão embora 10 dias depois destinados a serem sensação da cultura pop: Sex, lies and videotape, Clerks, The Blair Witch Project. Esses filmes abriram caminhos nunca antes percorridos e a atenção que eles atraíram ao redor deles foi por criarem um patamar para a descoberta.



Voltando a 2010, e ao filme que atraiu a cena chocante do lado de fora do Eccles; é The Runaways, um filme biográfico de estilo sobre uma banda de meninas adolescentes com o mesmo nome. Dirigido pela artista de vídeos musicais Floria Sigismondi, o filme tem sido motivo de comentários nos blogs desde a sua pré-produção, desde a “controversa” contratação da questionavelmente adolescente punk estrela de Twilight, Kristen Stewart como Joan Jett.



Mais cedo nesse dia, os blogs de fofoca exibiram fotos de paparazzi de Stewart saindo de seu jato particular em Park City. A mania do lado de fora dessa premiere pode ter sido por inúmeros motivos — Fãs de Twilight, fãs do protótipo punk dos anos 70s, a curiosidade que o trailer deixou quando mostrou um pouquinho da crescida estrela mirim Dakota Fanning interpretando uma ninfeta drogada que andava por ai usando cinta-liga tipo roupas de strippers de Hollywood como se fosse roupa de passeio – mas não chega perto de mostrar alguma descoberta. Essa cena de Runaways pareceria tão longe das raízes do Sundance quanto possível.



Uma coisa que fica óbvia quando os cinematógrafos sobem ao palco para apresentar o filme: Entre as calças de lantejoulas vermelhas da verdadeira Joan Jett e o mini vestido e salto alto de Sigismondi, a equipe de Runaways está com certeza se rebelando contra o padrão do código de vestimenta casual de inverno de Sundance. Pena que a rebeldia não se estende ao filme, que bem pelo contrário mostra o clássico clichê de sexo, drogas e rock & roll.



Mas isso não é de todo tão mal: The Runaways foi um dos meia-dúzia de filmes em Sundance esse ano que nos ofereceu os puros prazeres de uma obra cheia de estrelas feita para uma audiência madura. (outros incluem The Company Men e The Kids Are All Right) Entretenimento fácil – mas isso é rebeldia cinematográfica?



Indo direto ao ponto: The Runaways é o tipo de filme que Hollywood deveria estar fazendo mas não está, o tipo de filme que estúdios como Miramax e New Line que apoiavam filmes independentes costumavam fazer, antes dessas divisões do cinema não-comercial foram fechadas.



Hoje em dia, um tipo intermediário de veículo de estrelas – baixo orçamento para padrões de Hollywood mas exponencialmente mais bonito e mais caro de se fazer do que a média dos filmes independentes de festivais – está sendo feito quase em totalidade por companhias de produção independentes, e estréiam em festivais de filmes na esperança de que grandes compradores sejam atraídos pela aclamação da crítica e comentários do público. (quando estúdios decidem fazer esse tipo de filme, como foi com Up in the Air, eles ainda assim são levados aos festivais em busca da credibilidade independente e o prestígio dos prêmios.)


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