15/05/2010

ENTREVISTA DE KRISTEN STEWART PARA A ELLE MAGAZINE

Enigmática, privada, desajeitada e maravilhosa, ela é famosa por deixar um vampiro adolescente (oh, e o lobisomem) aos seus pés, mas não confunda. Kristen Stewart é real. Ela conta a Amanda Fortini porque ninguém se importa tanto quanto ela (nem sequer os TwiHards)



Parecida mais com seu papel de durona de Joan Jett do que a doente apaixonada Bella de Twilight, Kristen Stewart chegou a sessão de fotos para nossa capa sozinha (ela mesmo veio dirigindo) em calças cigarrete rock and roll, uma camiseta de flanela, tênis Vans e um topete bagunçado. Ao se deparar com centenas de fotos dela feitas por paparazzi que foram grudadas nas paredes do estúdio de Los Angeles e as dezenas de vestidos, acessórios e assistentes prontas para transformá-la para a câmera, a simples Stewart foi rapidamente lembrada de seu mega status como celebridade.

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Primeiro, Stewart experimentou um colete colante e shorts frisados estilo disco de Giorgio Armani – ela considerou usá-los novamente na cidade – seguidos por um mini vestido Oscar de La Renta e saltos Christian Louboutin. Enquanto o iPod da estrela tocava Band of Horses e Camera Obscura, Stewart usou um visual Versus de cetim preto pegando fogo e um vestido Dolce & Gabbana com estampa de leopardo com um verde vivo. O ideal para uma pequena Runaway (fugitiva).



Kristen Stewart realmente entrou em pânico. Nas telas, sua energia é cativante e seu rosto não apresenta ângulos ruins. Mas fora das telas, seu desconforto é palpável. Em suas aparições públicas ela fica inquieta, corre os dedos pelos cabelos, e sempre mede suas palavras. (Quem pode esquecer quando ela limpou a garganta no Oscar?)



Seu incômodo parece surgir com uma incômoda suspeita da mídia, especialmente por seu recente considerável sucesso como a líder feminina da série de sucesso Crepúsculo, que arrecadou mais de $ 1 bilhão. Ainda, essa dificuldade é uma surpresa em um ator, alguém que escolheu por estar sempre sendo visto.



Então de novo, extremo também descreve o redemoinho pelo qual Stewart e seus co-stars, Robert Pattinson e Taylor Lautner tem passado. Desde o apogeu do Brit Pack nos anos 80 não se vê tanta histeria dos jovens. “È uma anomalia louca, esse fenômeno adolescente, não posso pensar em nada como isso desde os Beatles,” disse David Slade, diretor de Eclipse, a terceira parcela da Saga Crepúsculo, que chega aos cinemas no final do mês.



“Nós estávamos filmando em uma região remota, no meio da floresta,” ele continua, “e as fãs estavam lá com flores as 5 da manhã.” A twilight mania é tanta que até aqueles que não viram os filmes, [em que KStew interpreta Bella Swan, que se apaixona pelo jovem vampiro sedento por seu sangue (Pattinson)] sabem que Kristen pode ou não estar namorando “RPattz”, seu co-star de olhar compulsivo.



Kristen chegou no lobby do Hotel 4 estrelas Westlake Village, na Califórnia, escolhido por sua proximidade com um bairro de classe média de San Francisco, onde Stewart foi criada, a única garota junto com vários homens. Tem o Cameron, seu irmão biológico de 24 anos, Taylor, que tem a idade de Kristen e foi adotado aos 13 anos e Miles e Obie, que são amigos de Cameron “que nós temos ajudado ao longo do caminho”, ela diz, “eu sempre digo que tenho muitos irmãos porque nós temos vários meninos que são como da família.” Cameron controla filmes e seus pais, John e Jules, também trabalham na indústria (a mãe é roteirista e o pai é gerente de palco).



“È louco, quando alguém te descobre, você tem que meter o pé de onde quer que esteja” ela diz enfaticamente, atentando para a loucura que virou sua vida. “As pessoas piram. E os fotógrafos, eles são viciosos. Eles são maus. Eles são como assassinos. Isso é puta perigoso.” È uma sufocante tarde de verão, e Stewart está toda vestida de preto, da sua camisa a sua unhas – a roupa de exército usual de um adolescente. Seu cabelo também é preto, tingidos e com um corte retrô – moderno para seu papel como Joan Jett em The Runaways, um filme que ela acabou de filmar.



Enquanto ela fala, suas palavras palavras saem como nós; ela se edita, recomeça, revisa (de uma maneira engraçada) seu ponto, tanto que muitas vezes tem um acúmulo de frases inacabadas. Ela mexe nos muitos anéis de prata que tem em seus dedinhos magros. Durante a entrevista ela pula de um joelho pro outro.



Stewart, que acabou de fazer 20 anos, vem trabalhando constantemente na ultima década, geralmente em produções independentes, mas ela admitiu que essa loucura por Crepúsculo a pegou de surpresa. “Alguém bateu na porta do meu quarto de hotel e pediu um isqueiro e depois disse que era um grande fã. Eu estava como, ‘Você realmente precisa que eu acenda seu cigarro? Como você sabe em que quarto eu estou?” Ela reclama da perda de privacidade. (“Não posso ser eu mesma, e eu gosto de ser eu mesma” ela disse.)



“Quem não tem uma alma?” disse Jodie Foster, que estrelou com uma Stewart de 11 anos em Quarto do Pânico. “È uma época muito diferente de quando eu estava crescendo. Não haviam tantas lentes a 150 metros de distância, eu talvez tivesse, mas elas respeitavam a linha entre público e privado.”



O que é lúdico para Kristen – e para qualquer outro com empatia ou que fique arredio em aparições publicas – são as lentes de aumento sobre suas maneiras, mais do que a simpatia provocada ou o encolher de ombros, fizeram dela uma figura de desprezo.



“Eu acho engraçado, que quando eu vou no palco receber um prêmio, as pessoas acham que eu estou nervosa, desconfortável e desajeitada – e eu estou – mas essas palavras são ruins para eles,“ diz

Stewart. Ela ainda fica aflita sobre o prêmio da MTV Movie awards no ano passado, que deixou cair seu prêmio, um pote de pipoca de ouro (depois disse rudemente, “Eu fiquei tão constrangida quanto eu achei que ficaria. Tchau!”)



“Porra, eu deixei cair o prêmio do palco…E eu estava como, tudo que eu tinha dito? Esquece. Esquece. Eu poderia muito bem apagar tudo aquilo. E eles estavam como, ’Eu adoro como ela sobe lá e tentar parecer tão séria. Ela é tão pretensiosa. Porque ela sempre tenta parecer tão esperta quando ela não é esperta?’ ”



O “Eles” a que ela se refere, e que retorna freqüentemente na conversa, são jornalistas dos tablóides, blogueiros e comentadores online. Depois eu pedi a ela para definir esse “Eles” e ela me deu um olhar “Não é óbvio?”



“As pessoas que escrevem merda na internet…Os profissionais que falam besteira na TV. Pessoas idiotas.” Isso é se ela for analisada por pessoas da cultura dos tablóides, aqueles que tem o principal objetivo de destruir os ídolos que eles mesmo criaram. Mas ela é tão jovem e cheia de promessas, que enquanto você vê ela imitando seus detratores, você se vê torcendo pra que ela sobreviva a todo esse ciclo das celebridades.



A maioria das críticas dirigidas a Stewart centram a sua aparente falta de entusiasmo para os aspectos extracurriculares de seu trabalho: as poses, o tapete vermelho e essas festas que os atores de Hollywood têm que ir. “As pessoas dizem que eu sou extremamente infeliz o tempo todo. Não é que eu seja extremamente infeliz,” explica Stewart, sobre seu comportamento no tapete vermelho, “é que as pessoas ficam gritando comigo… ás vezes eu literalmente tenho que me segurar para não chorar… è uma reação física à energia que as pessoas jogam em você.”



Alguma dessas coisas negativas sem duvida é inveja, com alguns fãs desejando estar em frente aos meninos e as meninas querendo sair da foto. Mas isso também é devoção dos fãs de Crepúsculo que querem estender a franquia – merchandise humano – você confunde os atores com os personagens da série. A aparente relutância de Stewart em participar disso, nega aos fãs essa fantasia.



“O que ela tem a dizer sobre o papel está bem la no filme,” disse Chris Weitz, diretor de New Moon, o segundo filme da saga. “O marketing e a publicidade são como sinos e assobios, mas o equívoco disso em uma conversa é um problema. Algumas pessoas incorporam isso a suas personalidades… e o desconforto de algumas pessoas com o sistema das estrelas está óbvio.”



Stewart transmite seu desconforto (ou tenta lidar com isso) de maneiras que podem ser percebidas não como auto-protetora ou auto-expressiva, mas rebelde. Especialmente quando suas ações lançam expectativas em muitas jovens – especialmente quando sua personagem é tão amada por milhões de jovens e suas mães. Ela vai a eventos de tênis. Ela foi fotografada fumando um baseado em plena luz do dia e em um biquíni com uma imagem de maconha decorando cada peito. Ela jura como um caminhoneiro, só por isso.



“Eu tive um pouco de problema de autoridade,” ela replica quando David Letterman perguntou a ela nessa agora-famosa entrevista, se ela tinha “algum interesse em ir além do ensino médio. Talvez faculdade ou algo assim?” Vamos dizer que ela tem um exército leal que a ama por tudo isso, mas eles falam menos do que os críticos. “Se uma mulher não está feliz, não tem opinião, nem cabelo grande e nem é bonita, então ela é estranha e tipo, feia,” ela diz. “E eu apenas não entendo isso.”



“Vamos fumar,” ela finalmente anuncia. Nós vamos lá para fora apreciando uma cachoeira falsa. Ela tira dois cigarros de uma caixa de Camel Lights, constatando que ela não se importa se as pessoas “vão na internet e dizem que eu sou feia.” Ela se importa apenas quando eles criticam “o esforço que eu coloco nisso.” Ela acende um cigarro, se inclina para frente e fala com a intensidade sinistra evidente em seu trabalho. “Eu odeio quando eles dizem que eu sou ingrata e eu odeio pra caralho quando eles dizem que eu estou pouco me fu*****, porque ninguém se importa mais do que eu. Estou te dizendo que não conheço ninguém que faça isso que se importe mais do que eu.”



“Há uma ameaça para a saúde dela na maneira como ela trabalha, no fato dela não conseguir projetar sentimentos sem os sentir,” Weitz diz. “Se você for filmar uma cena na qual ela tem um ataque nervoso, é potencialmente isso que você conseguirá. Eu me peguei ficando preocupado com ela em alguns momentos.” Durante a filmagem de Crepúsculo, executivos do filme ficaram preocupados com Stewart e Pattinson. “Todos os dois têm a tendência de se aprofundarem, de encontrarem o núcleo emocional de uma cena,” diz a diretora do primeiro filme, Catherine Hardwicke. “Eu acho que os produtores estavam preocupados – e eles estavam certos em alguns pontos – que fosse ser todo melancólico, todo sério.” Ao mencionar isso, Stewart balança: “Bom, agora eles estão agradecendo a suas estrelas de sorte por estarmos sendo sérios a respeito disso,” ela diz. “Eles queriam que sorríssemos mais. Eles literalmente pensaram que não estava suave o suficiente, nem engraçado o bastante, e não se parecia com uma história de amor. Mas me desculpe, porque quando você está apaixonada por alguém, não fica sorrindo. Bom, talvez você fique, mas não nessa história.”



Um tema recorrente entre os diretores dos filmes de Stewart – um rio estável desde que um agente a flagrou cantando “The Dreidel Song,” em um concurso na escola com oito anos de idade – é a honestidade em seu desempenho, a sua bússola finamente calibrada para a autenticidade. “Ela tem um grande detector de papo furado,” diz Greg Mottola, diretor de Adventureland. “Kristen tem um senso de verdade. Ela não mente,” diz Mary Stuart Masterson, que dirigiu Stewart em The Cake Eaters. “Ela tem que verdadeiramente acreditar no que está fazendo… o que é uma grande dádiva, mas também pode soar como uma praga, porque então o material também deve ser algo no qual você também acredita.” Hardwicke adiciona: “Kristen gosta especialmente de se sentir bem com suas falas, como se elas realmente estivessem saindo da boca dela. O que me teve que fazer reescrever algumas coisas no set.”



Stewart tem a tendência de interpretar adolescentes propensas a independência e confortáveis na própria pele, assim como ela é. Telegrafar as neuroses delas é, de fato, a força dela como atriz: os personagens dela podem ser verdadeiramente desconfortáveis para se assistir. Ela ainda por cima projeta uma precocidade firmada. Qualquer pessoa que ver Na Natureza Selvagem achará difícil de se esquecer de uma Stewart jovem com 16 anos interpretando Tracy Tatro, deitada na cama em lingerie de algodão branco, tão vulnerável como um potro enquanto se oferecia para o idealístico Christopher McCandless feito por Emile Hirsch. “Kristen pode expressar todo esse anseio, desejo e ansiedade com apenas um olhar ou sorriso,” diz Joy Kasdan, diretor de Eu e As Mulheres, no qual Stewart interpretou uma adolescente que tem uma queda por seu vizinho de vinte e alguma coisa, interpretado por Adam Brody. “Ela não precisa dizer ‘eu estou cheia de desejo’ – ela pode apenas fazer.”



Entra Bella Swan. Bella é a epítome de desejo. Ela é um desejo ardente quando todas as outras qualidades são descartadas. A habilidade de Stewart para transmitir isso para a quase total exclusão de todas as outras emoções é com certeza responsável, pelo menos por uma parte, da imensa popularidade da franquia Crepúsculo. A (maioria) da base de fãs feminina está vibrando por Edward Cullen na forma fina de Robert Pattinson ou por Jacob Black, no encorpamento decididamente mais bombado de Taylor Lautner, mas Bella é o reservatório para o desejo coletivo do público. Stewart chama Bella de “O personagem meio que menos desenvolvido que eu já fiz,” e nota, “eu tive que me trazer [para o papel].” Mas seja quais tenha sido os aspectos da vida real que ela transferiu para a Bella, o brilho não celebrado de sua performance é que ela também a deixou suficientemente esquelética para que os espectadores pudessem fazer o mesmo. “Eu acho que faz parte dos filmes serem os fenômenos que são e parece que ela não ganha um tremendo crédito por isso,” Kasdan diz. “Sim, as mulheres amam o homem, mas elas estão o amando através dela.”



Alguns meses depois, Stewart e eu nos encontramos de novo, dessa vez no canto de uma tenda de um restaurante de hotel em Hollywood. Novamente ela está vestida toda de preto e em seu moletom com capuz lê-se FREIRAS COM ARMAS: OREM AO SENHOR E PASSEM A MUNIÇÃO – mas o cabelo dela está mais claro e maior e ela parece mais tranquila, e nem tão enrolada.



A pressão de Crepúsculo está fora, pelo menos por enquanto – pelo menos até que Eclipse chegue aos cinemas e inevitavelmente desperte a loucura assustadora que os anteriores despertaram. Dessa vez, Bella aprende “que há, tipo, diferentes níveis em amar alguém,” Stewart diz vagamente. Ou como David Slade diz: “Bella está na beirada do abismo nesse filme, e ela sabe que tem que dar um passo…” Duas horas de boa purificação.



Mas Stewart não está tão longe além desse mês para o lançamento do filme “mais bacana de todos,” Welcome To The Rileys, dirigido por Jake Scott. Ela faz uma stripper-prostituta de 16 anos, “uma ferida aberta” de garota, que se torna amiga de um casal de meia-idade (Melissa Leo e James Gandolfini) de luto pela morte de sua filha. A premissa soa como filme independente, mas funciona e o roteiro escrito vagamente mostra os talentos dos atores. Stewart apresenta seu personagem machucado e selvagem com uma complexidade e controle que não esteve presente em seus personagens anteriores. Para se preparar, ela viveu comendo porcarias, aprendeu pole-dance, fumava e ficava acordada a noite toda. A vida dura teve seu preço: a sua perna ficou coberta de arranhões e a sua pele clara com hematomas, todos reais.



É difícil imaginar outra atriz jovem se subordinar seu visual tão completamente para uma performance. Esse pode ser o papel que solta a associação entre Kristen Stewart e Bella Swan, criança de propaganda por melancolia adolescente.



Entretanto, no momento, há bastante gente que a vê como Bella. Pré adolescentes começaram a se agruparem na tenda perto da nossa, aves de caça examinando a caçada. O ecossistema do restaurante se alterou. Stewart sabe que ela está sendo vista. Eu aproveito o momento para fazer a pergunta que está na mente de todo mundo: “Na vida real, você seria Team edward ou Team Jacob?”



“Oh, Meu Deus! Você realmente perguntou isso?” Ela ri. “Shhh.” Essas palavras a deixaram nervosa. Ela já foi atacada antes. “Eu jamais humilharia meus relacionamentos falando deles. As pessoas dizem. ‘Apenas diga que vocês estão namorando. E aí as pessoas pararão de ficar tão famintas por isso.’ É como, ‘Não, eles não irão!’ Eles irão querer que especifique mais.” (Há uma possível pista no Kindle que ela trouxe com ela: entre os downloads está Bel Ami de Guy de Maupassant, a versão do filme que Robert Pattinson está filmando.)



“Eu quero um cigarro,” Stewart anuncia. É quase um desafio. As garotinhas surgem como um enxame. Ela posa para uma foto com elas. Cigarros na mão, ela desliza pela porta afora.


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