14/02/2011

REVIEW DE THE RUNAWAYS



Em 1975, o rock era território da testosterona e não havia muitos espelhos onde se olhar para uma garota que queria fazer rock. Mas reunidas ao redor do produtor Kim Fowley, Joan Jett, Cherie Currie, Joackie Fox, Lita Ford e Sandy West, cinco garotas da Califórnia, abriram o caminho.

Não foi fácil: os jornalistas as maltratavam, as revistas de rock mais experientes as esmagaram, o manager abusava delas de quase todas as maneiras imaginavéis, as drogas e as manipulações as enloqueceram tornando-as umas contra as outras. E contudo gravaram discos extraordinários, sairam de turnê pelo mundo, foram número 1 e chegaram ao topo. Não estavam mal: tinham 16 anos.


Agora, um filme que, lamentavelmente, saiu direto a video faz justiça a essa revolução que antecipou aos Sex Pistols chamada The Runaways.

Brilha o sol e uma adolescente loira está prestes a atravessar a rua. Lá esperam alguns garotos, que a verá secretamente. E de entre suas pernas cai uma gota de sangue menstrual sobre a calçada, vermelho, brilhante ao sol. Quando se troca para ficar fabulosa no encontro, a loira deve adicionar a suas botas de plataforma prata e sua maquiagem teatral, um absorvente que se encaixe em sua roupa íntima rapidamente. A loira se chama Cherie Currie, e dentro de pouco tempo será a vocalista de The Runaways, a primeira banda de rock composta unicamente por garotas (por garotas adolescentes). E a atriz que interpretou Cherie no filme, a protagonista dessa cena que agora se pode chamar lendária - alguém se lembra de algum outro filme em que apareça ou se mencione a menstruação? - é Dakota Fanning, já não é mais uma estrela infantil: agora é uma linda garota de 16 anos que está crescendo na tela, como mulher e como atriz.


Em seguida, o filme apresenta a outra garota. É morena, é linda, é muito tímida, se nota em seus ombros entristecido e seu olhar arisco. Ela está comprando roupa em uma loja para motociclistas e rockabillys, e ela sabe o que busca. "Eu quero a que ele está usando", diz apontando para o namorado da caixa, que veste uma jaqueta de couro preta. A compra com moedas: uma garota que acaba de quebrar seu porquinho, que gasta suas economias para se parecer com quem sonha ser. E depois sai correndo do local e berra a todo volume o que soa em sua cabeça: "The Wild One" de Suzi Quatro, sua heroína, uma das poucas mulheres que tocavam rock no início dos anos 70, uma das poucas que também tocava guitarra. "Toda minha vida eu quis ser alguém, e aqui estou", diz a canção. A morena com sua jaqueta de couro é Joan Jett, que seria a guitarrista e compositora de The Runaways (e quando a banda acabar, uma super estrela do rock). A atriz é Kristen Stewart, mais conhecida por seu papel como Bella em Crepúsculo, a jovem atriz do momento que, aos 21 anos, quis aproveitar a pausa entre dois tanques da saga que protagoniza para fazer este filme relativamente pequeno que lhe permitia ser todo o oposto de uma heroína romântica.

The Runaways foi lançado nos Estados Unidos há mais de um ano. Agora acaba de sair em DVD na Argentina. Em nenhum lado foi um sucesso de público, embora sim de crítica: como filme de iniciação e como filme rocker, poucos podem compará-lo. É um grande filme em um momento em que, nem sequer, existem bons filmes. Sua diretora, a artista ítalo-canadense Floria Sigismondi, é famosa por seus vídeos musicais: os arrepiantes "The Beautiful People" e "Tourniquet" para Marilyn Manson, "Blue Orchid" para White Stripes, "O Sailor" para Fiona Apple e até "Fighter" para Christina Aguilera. Mas embora ela conheça o terreno, surpreende com a sua inteligência: admite que as garotas de The Runaways cresceram muito cedo, mas não se delicia com a perda da inocência para não transformar o filme em um drama culposo; também reconhece os maus-tratos do manager do grupo, Kim Fowley, mas não está disposta a dar-lhe qualquer coisa e fazer um filme sobre ele; a fotografia do The Runaways é suficientemente realista para ter credibilidade roqueira e suficientemente brilhante e gloriosa para sonhar com essa cidade ideal de anjos, chei de luz e glam rock. Sigismondi captura com grande autoridade esse solavanco que algumas garotas rebeldes sentem ao crescer: essas garotas que não querem ser princesas, mas as rainhas do barulho.

Mas talvez seu maior mérito é extracinematográfico. Courtney Love disse quando comentou o lançamento: "Eu me pergunto quantas garotas vêem isso e se perguntam se isso aconteceu de verdade". E aconteceu de verdade. Houve uma banda que se chamou The Runaways, que implodiu em quatro anos, integrada por cinco menores de idade que abriram o caminho para todas as garotas que quiseram estar em uma banda mais tarde. O melhor que esse filme pode fazer é redescobrí-las, fazer-lhes justiça.

Rockabilly é um dos primeiros sub-géneros do rock and roll, tendo surgido no começo da década de 1950.

Em The Runaways, o filme, Joan ajudou a Kristen Stewart constantemente, sobre tudo para que ela pudesse cantar as músicas, coisa que a atriz faz muito bem. 

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