02/05/2011

Robert Pattinson na Revista Elle UK



 O MENINO PERDIDO

Existe algo a mais em Robert Pattinson do que genes estelares e uma óptima linha de pensamentos? Pode apostar que sim, diz Hermione Eyre.
Quando eu cheguei aos estúdios da FOX FILMS em Los Angeles, com um sol que brilhava enlouquecidamente logo no inicio da manhã. “Siga em frente até chegar a rosquinha,” disse o segurança, apontando para uma enorme escultura em homenagem a Homer Simpson. “E depois continue em frente até passar pelo mural de ‘Star Wars’, até que  vai chegar a uma ala cheia de pinguins, vai ter uma escultura em forma de violino. Vai encontrar o Sr. Pattinson ali.” Este é o insano mundo da fantasia no qual hoje habita Robert Pattinson.. Ele esta aqui, a fazer as gravações de voz de última hora, e mesmo que hoje seja domingo e os estúdios estão desertos, ele é o actor mais bem pago do Reino Unido (no ano passado, segundo o Sunday Times, o actor de 24 anos valia 13 milhões de Libras) e o seu trabalho nunca esta realmente terminado. Ele é um bom rapaz da eterna primaveril Barnes, oeste de Londres, que se tornou um astro internacional depois de trabalhar na imensamente popular saga vampiresca Crepúsculo (hoje uma tetralogia). Ele é o Keanu Reeves da geração Facebook, o Leonardo DiCaprio da era do Twitter. Se ele tirar a barba ou tomar uma cerveja, centenas de fãs comentam sobre isso. Ele até que ganhou um apelido um tanto quanto degradante: RPattz. Mas enquanto o seu personagem esta fadado a ter 17 anos eternamente, Pattinson esta crescendo e seguindo em frente.

Acabaram as franquias blockbusters: ele esta prestes a começar a gravar Cosmópolis de Don DeLillo e será dirigido por David Cronenberg (“Para mim o livro tem uma leitura de uma poesia incrivelmente longa,” diz Pattinson entusiasticamente. “O filme vai ser totalmente e completamente diferente de tudo.”). E ele também teve que aceitar o desafio de ficar como protagonista de dois filmes neste ano; primeiro ao lado de Reese Witherspoon no épico circense Água para Elefantes e  com Uma Thurman na adaptação de Guy de Maupassant do livro Bel Ami. Mulheres mais velhas não são novidade para ele, é o que me diz o actor: “Toda as raparigas com quem eu saia na minha adolescência eram mais velhas do que eu. A minha primeira namorada tinha 26 anos e eu 17. Mulheres mais velhas sempre pareceram mais excitantes.” Talvez porque elas sabem mais? “Acho que sim. Eu achava que eu era meio ‘bad-ass’ quando era mais novo. Eu adorava que as pessoas ficavam  aborrecidas quando descobriam quão jovem eu era. Eu gostava de entrar num lugar com uma mulher e que as pessoas olhassem para nós e pensassem: eles não fazem um casal perfeito.”

Se estas mulheres estavam bem vestidas, posso entender o porque que as pessoas fariam algum julgamento. Hoje, Pattinson esta vestindo um par de óculos vintage, casaco preto, camisa preta, calças pretas, de barba por fazer e com um ar de um tipo que foi acordado as pressas e descobriu que o carro já estava a espera dele a um bom tempo. Isso deve acontecer bastante com ele, eu acho. Ele tira os seus cigarros, portátil e chaves na mesa, e suspira perante a sua própria preguiça. “O trabalho ideal seria de um dia por semana. Quando eu comecei a actuar eu tinha um trabalho por ano que durava três meses e então eu não fazia mais nada pelo resto do ano, pois eu tinha dinheiro o suficiente para sobreviver. Eu lia os jornais todos os dias, via um monte de DVDs… Era óptimo.” Diz ele enquanto abre um enorme sorriso, olhos pesados porém gentis e ligeiramente felinos; como James Dean, mas sem o ódio de si mesmo que ele carregava.

Ele tem 24 anos agora, mas talvez ironicamente devido a eterna adolescência de seu alter ego vampiro, ele parece ser muito mais novo. A sua face  ilumina-se quando ele vê o seu lanche favorito a ser entregue no estúdio: kebab de frango. “Eu tenho gostos comuns.” Ele é um menino doce e divertido, que ri muito fácilmente por mais que ele não pareça estar totalmente feliz. Mas ele esta, ele diz, muito mais contente do que estava antes. Ele escrevia músicas como um escape (as suas composições chegaram a aparecer na trilha sonora de Crepúsculo) mas ele diz que não tem sentido a necessidade de escrever novamente agora. “Eu tenho que estar extrememente depressivo para escrever músicas, e eu não estou. O que me faz escrever músicas é quando eu acordo a chorar. Eu não tenho a mínima idéia do porque eu estava a chorar, mas isso me faz sentir pena de mim mesmo…” E ele cai na gargalhada.

Mas toda a pressão do dia pra noite e o sucesso global não podem ser esquecidos. A loucura que o segue tem restringido as suas escolhas das mais diferentes formas. “Eu realmente, realmente, adoraria fazer uma peça em Londres,” diz ele. “Mas eu tenho medo porque acabei por ser um show do ‘NSync. Ou que as pessoas acabam por ir ver esperando algo como Crepúsculo. Das poucas coisas teatrais que eu já diz, eu sei que se pode sentir o empurrão da plateia, que deve estar do seu lado querem que a peça corra bem. Mas quando eu vou para as premieres, é como se fosse uma multidão te puxando, querendo um pedaço de ti. Eu sempre  sinto totalmente drenado depois disso. Seria muito estranho e exaustivo sentir este tipo de experiência nos palcos todas as noites.”

Apesar de todos os medos, ele nega que toda a adoração seja realmente para ele. Ele diz que é simplesmente uma cifra que faz com que todo o frenesi seja possível. “Esta muito claro de que as pessoas ficam loucas  porque elas querem uma desculpa para ficarem loucas. Não se pode parar no meio da rua e começar a surtar, mas junto com os amigos no meio de um evento de Crepúsculo há um ambiente propicio onde se pode fazer isso.” É devido a este tipo de pensamento modesto que ele ainda não perdeu a sua sanidade. Um pouco de vaidade vem com o território conquistado, e Pattinson  preparou-se para as cenas que teria de fazer sem camisa indo para “o ginásio  quatro horas por dia. Eu não comia nada, só batidos de proteínas. Mas eu não consigo entender como se pode manter aquilo o resto da sua vida. Assim que as cenas terminaram eu parei de ir. É uma idéia ridícula de que  não é um bom actor se não tiver um abdómen para mostrar.”

Pattinson esta actualmente trabalhando numa escala de seis dias por semana em projectos e não tem  uma vida pessoal, nem uma casa. “Eu estava bem perto de comprar uma casa em Los Angeles, mas faltavam 20 minutos para assinar o contrato e eu surtei. Então eu não tenho uma casa e nem um canto para morar. Isso pode te deixar um pouco louco, por não ter esse tipo de segurança. Espero que tudo isso se acalme nos próximos anos, eu vou ter filmado em tudo quanto é lugar. Eu pensei em ter um cão. Então, qualquer lugar onde o cão estiver, aquele será o meu lugar.”

Ele adoptou Bear, um cruzamento de um pastor Alemão com um pitbull (“100 Dólares por um cão!”) de um abrigo de cães no Louisiana: ele estava no corredor da morte canino. “Bear estava a dois dias da eutanásia. Nós achávamos que ele estava traumatizado pela experiência de quase-morte.” Quem é ‘nós’? Seria essa uma missão solitária de resgate ou Pattinson estava acompanhado de uma certa co-star mágica? Há muito tempo ele tem sido ligado a Kristen Stewart, mas adoptar um cachorro juntos com certeza seria um significado de que as coisas estão ficando mais sérias entre eles. “Bem…” Ele fica atrapalhado. Você será um pai solteiro para o Bear? “Humm, sim, eu acho que sim.” Então, os rumores sobre o iminente casamento entre eles é mentira? “Não, não são. Me disseram que eu poderia me casar em um lugar chamado ‘Napa Valley’. Parecia bom. Talvez eu vá me casar lá um dia.”

A ambiguidade que cerca o relacionamento entre Kstew e RPattz (Eles estão? Não estão? Será que as pessoas ainda se preocupam? A única coisa que é certeza é que nenhum deles irá dizer alguma coisa) gera uma conveniente publicidade para os filmes vampiricos. Eu pergunto a ele se tudo isso não é uma fabricação do estúdio. “Não,” diz ele, meigamente porém firme. “Oh não. Eu adoraria se eles tentassem. Se o estúdio tentasse intervir na minha vida pessoal eu poderia começar a desarrumar com tudo… Não. Não tem nada nefasto a acontecer, eu só não gosto das pessoas se metam na minha vida .Não é bom quando a sua vida se torna notícia na vida das outras pessoas. Até mesmo quando esta se divertindo e alguém tira uma foto e diz. ‘Olhe para eles, eles estão se divertindo!’ E eu sinto algo como, isso não é o seu divertimento.”Então ele não esta trabalhando com um grande estrategista de Relações Públicas? “As pessoas acham que nós temos alguém para organizar tudo, que tudo na verdade é uma acrobacia de publicidade. Não é. Não existe uma comitiva mágica –Somos apenas uma pessoa qualquer. Tem que se lidar com isso.”

Apesar de algumas experiências “malucas” que ele teve em Hollywood – como quando Will Smith veio até ele na noite do Oscar, um pouco antes dele subir no palco para apresentar um prémio e o orientou, “Não tente ser engraçado. Nem mesmo pense nisso. Fique na sua.” – Pattinson diz que ele não tem se divertido muito com a fama. Será que ele já descobriu com qual jovem de Hollywood ele pode se divertir? Por que será que ele simplesmente não se liberta e sai para aproveitar a vida? “Não é possível sair com aquela coisinha com câmeras de telefone por ai. Eu não posso fazer isso. Se eu tomar quatro cervejas serei destruído no dia seguinte. Eu não consigo entender como estes astros conseguem fazer isso sempre.” Ele pausa.“Cocaína. Só pode ser.”

Ele manda todos os seus roteiros para os seus pais lerem, (“Eles sempre dão bons conselhos porque eles pensam totalmente diferentes da indústria do cinema. O meu pai compara todos os roteiros com ‘Tubarão’ e ‘Superman’…”) e ele ainda sente falta do seu animalzinho de estimação de infância, um West Highland Terrier chamado Patty Pattinson – “e o nome do meio dela era Pat.”

Eu não vou fazer nada para limitar o apelo que ele tem com a sua legião de fãs, mas ele tem um coração muito generoso. Ele ficou muito ligado ao filme Água para Elefantes, diz ele, por causa da sua cinzenta e enrugada co-star, a elefanta Tai. ”Eu a vi recentemente e ela se lembrou de mim, ou pelo menos eu acho que ela se lembrou. Ela tinha um adereço na cabeça e eu disse, “Chapéu bonito, Tai” e ela elevou a tromba dela para a cabeça. Ela é maravilhosa.” Quando perguntado sobre a maior extravagância que ele fez com o nem-um-pouco-insignificante dinheiro que recebeu, ele diz, “Sei que vai soar ridículo, mas o meu cão estava doente, estava com uma doença de filhotes chamada parvo, e eu achei que foi um verdadeira alívio ir até o veterinário e falar: ‘Eu quero o melhor tratamento, imediatamente.’ ”

Água para Elefantes  passa-se na Depressão Americana e o desempenho de Pattinson é impressionantemente controlado, com um subtil toque da época. “Eu  vi filmes do Gary Cooper, quanto a sua postura e tranquilidade. Não era a técnica de câmera e era quem tinha que ficar ali, bem quieto. A actuação era muito mais na  sua voz. E também, o meu personagem é um veterinário, então existe um ar mais calmo ao redor dele, como tem com qualquer um que é bom com animais.” Ele e Reese Witherspoon crepitam em cena; e pelas suas normas, a década que existe entre eles não é nada. “Ela não é tão mais velha que eu,” diz ele com um ar de galanteio. Água para Elefantes talvez não seja a sua grande e libertadora performance – o papel que irá colocar a sua reputação de ídolo adolescente bem longe – e nem foi Little Ashes no qual ele interpretou Salvador Dalí com um enorme bigode, mas aos poucos, Pattinson esta emergindo da caixa marcada como “galã”. Por enquanto, parece inevitável, ele irá se manter na capa dos tablóides.”As revistas de mexericos  fazem mais dinheiro do que a maioria dos filmes,” diz ele com um certo ressentimento, até que eu levanto a sua moral: “não os seus filmes.” (O filmes da Saga Crepúsculo conseguiram 1.12 bilhões de Libras em todo o mundo – e o próximo filme, Amanhecer – Parte 1 será lançado em 12 de Novembro) “Yeah, tudo bem,” diz ele aos risos.

Mesmo assim, existe algo ainda um pouco perdido sobre Robert Pattinson. “Eu nunca consigo aquilo que eu quero,” suspira ele em um determinado momento. O eu cão esta doente, ele não tem uma casa, e lendo por dentre as linhas, sua vida amorosa está um pouco cinzenta. O limite pesaroso de sua personalidade é o que o faz tão desejado – e é tão romântico. Temos que agradecer aos céus que esse ídolo multimilionário das matines não está muito feliz consigo mesmo do que ele deveria estar: se fosse assim, ele seria insuportável. Mas mesmo assim, ainda seria um estranho, leve, maleável e modesto, ainda esperando para sair de uma concha.

A Lista

Os álbuns preferidos de Robert:

1. Moondance de Van Morrison

2. Night Train de Oscar Peterson

3. Abbey Road dos Beatles



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