Vampiro Maduro
David Cronenberg volta aos personagens estranhos num mundo de delírios em Cosmópolis e faz do protagonista de Crepúsculo um ator de verdade.
Com os filmes da Saga Crepúsculo, só as adolescentes apaixonadas podiam encarar Robert Pattinson como um ator de verdade. Depois do sucesso meteórico, faltava ao intérprete do vampiro Edward encarar um batismo de fogo. O teste chegou por boas mãos: o mestre dos filmes bizarros, David Cronenberg (de Crashe Gêmeos – Mórbida Semelhança). A notícia é boa: Pattinson se sai muito bem na pele de um dos personagens mais importantes da literatura americana recente, o bilionário Eric Packer, de Cosmópolis, adaptação do consagrado livro homônimo de Don DeLillo.
Com apenas 28 anos, Eric controla o mundo de dentro da sua limusine, que atravessa Manhattan num dia qualquer por um motivo banal – o jovem magnata quer cortar o cabelo. Em 24 horas, ele encontra os membros de seu staff (um jovem hacker, uma marchande, sua consultora-chefe) e personagens deslocados (como um grande cantor de rap que é seu maior ídolo e um confeiteiro terrorista). Em meio à jornada, uma estranha loura que ele nunca reconhece direito cruza o seu caminho, aparecendo e sumindo sem deixar rastrto: é ninguém menos que Elise, a jovem com quem ele casou há pouco tempo.
Em 2003 o livro de DeLillo caiu nas graças da crítica e dos leitores como um retrato psicodélico e compulsivo do início do século 21, em que o excesso de dinheiro de alguns poucos, afastados da realidade e mergulhados cada vez mais em telas virtuais, contrasta com a revolta de muitos – numa acurada profecia do que viriam a ser protestos como o Ocupe Wall Street. Mesmo com todo o dinheiro e conforto, Eric não se sente feliz e busca momentos de realidade num mundo cada vez mais fake.
Longe da fase mais bizarra de sua obra, de filmes como Videogame (1983) e A Mosca (1986), Cronenberg faz uma adaptação fiel do livro – uma fidelidade que por vezes soa excessiva, impedindo que seus instintos de grande cineasta aflorem. Por outro lado, se sai muito bem na construção desse universo que só podia ser um delírio da cabeça de alguém. Eric e as pessoas à sua volta interagem numa autoironia própria de um mundo cada vez mais entregue às grandes corporações – com destaque para as participações-relâmpago dos franceses Mathieu Amalric e Juliette Binoche.
Pattinson, protagonista absoluto de Cosmópolis, segura firme todas as cenas em closes de puro cinismo, bem distantes do romantismo meio canastrão da saga que lhe deu fama. O ex-vampiro pode dormir tranquilo – se a beleza garantiu a ele a entrada no cinema, depois de Cronenberg seu futuro parece bem promissor.
FONTES: TwiManiaBr VIA: teamtwilightbr
Fala-se de Cinema
Estrada em transe
Livro que definiu os ideais libertários de uma geração, On The Road chega às telas em versão de Walter Salles e mostra que o movimento beat ainda tem eco até a moda atual.
Em apenas três semanas, Jack Kerouac escreveu o livro que marcaria toda uma geração que, entediada pelo pós-guerra, estava à procura de um propósito para a vida. Lançado em 1957, seu On The Road finalmente chega ao cinema pelas lentes do brasileiro Walter Salles, depois de quase três décadas trocando de mãos. A história dos amigos que cruzam os Estados Unidos (de Nova York a São Francisco, passando por Denver) em busca de um sentido para sua existência logo se tornou um mito da chamada geração beat ao expor a liberdade sexual, o uso de drogas, o interesse pelas religiões orientais e pela vida nômade, tudo ao som de muito jazz – semeando a revolução cultural que se concretizaria na década seguinte.
Apesar das críticas negativas em Cannes, onde foi apresentado pela primeira vez no mês passado, o filme é intenso como a vida daqueles jovens. A atmosfera eletrizante e transgressora do sax de Charlie Parker, das pinceladas de Jackson Pollock e da própria narrativa improvisada e frenética de Kerouac é traduzida por cenas douradas e corpos suados (exalando sexo) embalados pelo bebop e os efeitos da benzedrina no café. “Os protagonistas viviam à flor da pele, à procura de diferentes formas de liberdade e vivenciando cada momento como se fosse o último. Assim, muitas cenas foram filmadas com jazz tocando no volume máximo e isso acabou entrando pelos poros dos atores. Como a câmera está colada aos corpos, existe um constante desejo de verter essa sensibilidade para o filme”, esclarece o diretor àVogue. Ao fim da sessão, é inevitável a impressão de ter saído de um transe. A estrada acabou e, junto com ela, a vida intensa e inconsequente. É hora de crescer, caros “hipsters destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa” – como Ginsberg define a própria geração no poema beat O Uivo.
Ícones do movimento
O poeta melancólico Allen Ginsberg (1926-1997) amava o bom-vivant Neal Cassady (1926-1968), que amava o escritor Jack Kerouac (1922-1969), mas vivia entre as camas de Carolyn e LuAnne. Todos adoravam café com benzedrina, sexo e jazz. Filhos de imigrantes, os personagens-ícone da geração beat fizeram de tudo pelas estradas americanas. Ginsberg conheceu o sucesso com o poema em prosa O Uivo, Kerouac transformou aquelas experiências em bíblia de uma geração, e Cassady seguiu viajando.
Descubra o bairro beat de São Francisco
O Diretor Walter Salles ensina a andar por North Beach
“São Francisco é o último reduto beat. O The Beat Museum (540 Broadway) é parada obrigatória para quem quer ouvir poesia de verdade. Todos os livros escritos por essa geração estão por lá, vários autografados pelos autores. Cruzando a rua fica a Jack Kerouac Alley, o bar onde toda essa turma se encontrava. Logo ao lado fica a livraria mais incrível dos Estados Unidos, a City Lights (261 Columbus Avenue), criada pelo poeta Lawrence Ferlinghetti. Nas parede, fotos que marcaram a vida boêmia da cidade e algumas das frases que definem o lugar, como ‘Read a fucking book!’.” No fim da jornada, tome um expresso no Caffè Trieste (601 Vallejo Street).
Moda
O look mendigo da garota beat virou habitué das passarelas: jeans e couro, camiseta podrinha, tricôs oversized e tecidos naturais. Pronta para cair na estrada, ela precisa de muitos bolsos e sapatos pesados. Sua bolsa é a hobo: mole e espaçosa, como a dos vagabundos que cruzam as EUA clandestinos em trens.
TwiManiaBr VIA: teamtwilightbr
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