Saga de vampiros criada pela escritora Stephenie Meyer finalmente ganha adrenalina
Se fizessem pesquisas para avaliar a elevada rejeição, entre apreciadores dos filmes de vampiros, a respeito da saga de morceguinhos "light" levada às telas em "Crepúsculo", "Lua Nova" e agora "Eclipse", seus índices provavelmente fariam face ao grande número de jovens que adora a série. Mas tudo soa falso e risível na transposição para o cinema dos livros de Stephenie Meyer, para quem se acostumou a cultuar o clássico "Nosferatu", ápice do expressionismo alemão dirigido por F.W. Murnau, ou a clássica adaptação de "Drácula" com o icônico ator Bela Lugosi no papel principal.
Mesmo os belos morcegos/humanos de "Entrevista com o Vampiro" (baseado no livro de Anne Rice), em que Tom Cruise suga sofregamente o pescoço de Brad Pitt, tiveram bem maior aceitação entre os fãs do gênero, apesar de também serem atípicos. Já o cineasta Roman Polanski levou o tema na gozação em um de seus melhores filmes, "A Dança dos Vampiros".
Na verdade, os dois primeiros lançamentos da série, "Crepúsculo" e "Lua Nova", foram quase primários em matéria de linguagem cinematográfica. Sobretudo o primeiro, que revelava notório amadorismo até quanto aos efeitos especiais, algo difícil de se conceber numa produção americana baseada em um "best-seller" de sucesso e realizada com o indisfarçável propósito de faturar alto nas bilheterias. Assim mesmo, a franquia se tornou tão "cult" entre adolescentes quanto a série do bruxinho Harry Potter. Essa adoração do público jovem acentuou-se sensivelmente com a formação de um triângulo amoroso entre a "humana" Bella (Kristen Stewart), o adocicado e pálido vampiro Edward (Robert Pattinson) e o bombado filhote de lobisomem Jacob (Taylor Lautner). O jovem ator de 18 anos veio injetar, a partir do seu próprio físico "sarado", um toque de sensualidade à trama, com o detalhe de que Lautner é, com larga vantagem, o mais convincente intérprete do trio central.
À flor da pele
Em "Eclipse", ocorre o ponto alto do triângulo amoroso, acentuando com cores mais fortes o dilema de Bella entre se tornar uma "vampiresa", condenada à vida eterna, ou optar por um lobinho ainda humano e de corpo escultural como Jacob, com quem a indecisa mocinha poderia até casar e ter filhos. Mas é na segunda metade do filme que se sente com maior intensidade a presença de David Slade, sucessor de Catherine Hardwyck e Chris Weitz na direção dos filmes da saga. Slade dirigiu anteriormente o ótimo "MeninaMá.com", no qual uma garota prepara sagaz armadilha para se vingar de um pedófilo, e "30 Dias de Noite", outra interessante incursão no universo vampiresco.
Além de mostrar personagens mais aproximados dos exibidos nos clássicos da tela, sempre sedentos de sangue, o diretor supera sensivelmente o tom ingênuo de "Crepúsculo" e "Lua Nova", imprimindo a percepção de que os personagens estão bem mais dispostos a fazer sexo, como na cena assumidamente erótica vivida por Bella e Jacob. Os estúdios parecem ter cedido à pressão do público e da crítica, que haviam considerado "Lua Nova" excessivamente "água com açúcar" e quase totalmente despojado de emoção.
Houve, inclusive, substituições no elenco. A atriz canadense Rachel Levefre, que fazia a vampiresa e vilã Victoria, foi sumariamente afastada e substituída pela bem mais talentosa Bryce Dallas Howard (lançada em "A Vila", de M. Night Shyamalan), expandindo a atuação do personagem, que tem presença marcante em "Eclipse". A nova intérprete de Victoria é filha do diretor Ron Howard e já atuou em outras franquias cinematográficas de grande sucesso, como "Homem Aranha 3" e "O Exterminador do Futuro - A Salvação".
Apostando em novas fichas para conquistar também o público adulto, "Eclipse" ainda está longe de atingir o nível das produções clássicas no gênero, principalmente para os espectadores mais exigentes. Mas pelo menos revitaliza a trama com mais cenas de ação e consegue banir a insossa chatice assexuada dos primeiros filmes da série.
FIQUE POR DENTRO
Cronologia
1819 - Escritor John Polidon escreve o primeiro conto protagonizado pelo vampiro Lord Ruthven.
1897 - É lançado o até hoje mais conhecido livro no gênero: o clássico "Drácula", de Bram Stoker.
1922 - Por não ter obtido os direitos da obra "Drácula", o cineasta alemão F.W. Murnau troca os nomes e locais do livro original e lança "Nosferatu", obra maior do expressionismo no cinema.
1931 - Bela Lugosi interpreta Drácula no primeiro filme falado com vampiros.
1958 - Christopher Lee torna-se o vampiro mais famoso desde Bela Lugosi, ao protagonizar a primeira de uma série de oito produções sobre o Conde Drácula.
1976 - Anne Rice inicia-se no gênero com "Entrevista com o Vampiro", que foi traduzido para o português pela escritora Clarice Lispector e protagonizado na tela pelos galãs Tom Cruise e Brad Pitt.
1992 - Francis Ford Coppola lança sua excelente e estilizada versão do mais famoso vampiro da tela, em "Drácula de Bram Stoker".
2005 - Stephenie Meyer inicia a atual onda vampiresca escrevendo "Crepúsculo".
JOSÉ AUGUSTO LOPES
REPÓRTER
FONTE: Diariodonordeste
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